segunda-feira, 23 de junho de 2008

A menina das flores já não anda mais sozinha!


Ela estava sempre ali, linda. O trabalho dela era esse: vender flores para os casais apaixonados. Ironia do destino, ou não, ela estava sempre sozinha. Tinha em seus braços as flores mais belas; porém, ninguém a tinha nos braços, nem a cuidava como uma flor. Tinha de parecer sempre radiante pra que seu trabalho não parecesse tão chato, afinal, quem é que não gostaria de vender flores pra pessoas apaixonadas, com um brilho nos olhos ofuscante? Ainda mais ela que aprendeu a ler sozinha através de fábulas infantis daquelas com bruxas, plebéias, gatas borralheiras e príncipes encatados montados num cavalo branco e eixos dourados. Ela sempre achou que a culpa de ela ser sozinha era por conta de um feitiço de alguma bruxa que em algum momento passou por ela e assim decidiu que a sua vida devia ser amaldiçoada.
Mas alguma coisa aconteceu. Ela viu que crescera, seus pensamentos já não eram os mesmos. Notou que bruxa alguma poderia mudar a sua vida. Quem toma as rédeas de si própria é ela. Desde que seus pais e seu irmão morreram era assim. Decidir por ela mesma já não era uma opção, mas sim o único jeito de sobrevivência. Virava-se bem, morava numa pensão na qual pagava sua estadia com serviços de limpeza durante o dia. Aproveitava também pra vender umas flores pros hóspedes. Era na pensão que ela mantinha a sua estufa. E também foi na pensão que ela descobriu que o brilho nos olhos, aquele que ofusca, existia de verdade e que ela podia sentir.
Pela primeira vez ela vendeu uma flor e esta flor voltou pra ela. É simples: a menina das flores já não anda mais sozinha.

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